Em dia de liberdade
-Saberei eu a sua essência -
Liberdade:
Aquela que grita
se lhe dizem - Cala-te!
A que fere e esperneia
Se lhe atam os braços
A que ama sem medo
E chora sem receio
Quando a liberdade a deixa
De mãos vazias
À beira da estrada
Que a vê ir-se embora
E lhe sente a passada
Que entende o desprezo
E chora em degredo
E se reergue do lodo
Da água estagnada
E agita e mexe
E emerge furacão
E aceita a vida
sua profissão.
Em dia de liberdade
Choro a sua essência
Conspurcada, cadente
Velada, dormente
Liberdade hoje:
Aquela que aceita
E se comede
se reconhece presa
E não reclama
Não quebra fronteiras
Nem limiares
Se revê na liberdade
do outro
Não na sua
Se pensa espelho
não alma nua
Em mês de águas mil
E dia de cravos
No grito
vejo silêncio
Na revolução
consentimento
Na espingarda
Vejo escravos
Luzia Peixoto
25 abril 2021