escrever é o meu teatro mudo

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escrever é o meu teatro mudo | 24.08.2002

domingo, 25 de abril de 2021

25 cravos



Em dia de liberdade

-Saberei eu a sua essência -

Liberdade:
Aquela que grita 
se lhe dizem - Cala-te!
A que fere e esperneia
Se lhe atam os braços
A que ama sem medo
E chora sem receio
Quando a liberdade a deixa
De mãos vazias
À beira da estrada
Que a vê ir-se embora
E lhe sente a passada
Que entende o desprezo
E chora em degredo
E se reergue do lodo
Da água estagnada
E agita e mexe
E emerge furacão
E aceita a vida
sua profissão.

Em dia de liberdade
Choro a sua essência
Conspurcada, cadente
Velada, dormente

Liberdade hoje:
Aquela que aceita
E se comede 
se reconhece presa
E não reclama
Não quebra fronteiras
Nem limiares
Se revê na liberdade 
do outro
Não na sua
Se pensa espelho
não alma nua

Em mês de águas mil 
E dia de cravos
No grito 
vejo silêncio
Na revolução 
consentimento
Na espingarda 
Vejo escravos

Luzia Peixoto
25 abril 2021








quinta-feira, 22 de abril de 2021

TERRA


 



Terra
Regaço
Sentimento que abraço
O sustento no seu passo
Alimento que represento
Cadeia em movimento
Ciclos que se fecham 
Interpenetram e almejam
Sabedoria, consciência
Humanidade em emergência
Seja a lua seu espelho
Seja meu filho futuro velho
Terra, mãe eterna
Brilho intenso - melhor luzerna
Sou teu filho, teu amante
Destruindo o fio por estar distante
daquilo que representas em mim
E da dor de observar o teu fim
Não posso! Não quero
Ser conivente com a morte.
Não posso não quero
Ser causa da tua sorte
Estou a mudar
A crescer
Adolescência sempre fez doer
Tu sabes Mãe, 
Mãe eterna
Só agora estou a sair da caverna
Olhando o céu azul e não o vendo
Tingido de desprezo e cinzento
Não consigo respirar!! 
Não consigo respirar!! 
Mas tudo vai mudar.
Ouves? Ouves o abrir do meu coração? 
O sinal de final e de revolução?
Já não aguento!
Já não quero saber!
Do insustento, não irei perecer!
Mãe! Terra! Respira!
Estou aqui para mostrar
Que ainda tudo brilha! 
Deixo o consumo de lado
Não preciso de ténis
De plastico reciclado
Nem de gadgets em rosa dourado
Preciso de origens, água, raízes, vertigens
Olhar o infinito e o eco do grito
Sou consciente em mim
Não consumo sem fim
E declaro-me parte deste ecossistema
Deixo hoje mesmo de ser um problema
Deixo o carro na garagem
Troco shopping por paisagem
Como Bio em vez de Mac
Legumes em vez de snacks
Comércio justo! 
Compro menos pago mais!
No fim das contas: 
Ficamos todos mais iguais
Pequenos passos
Grandes mudanças internas
Hoje sou homem! 
Deixei para trás a caverna.
Oh Mãe!
Mãe Eterna! 
Confia em mim! 
Deixei para trás a caverna. 
Sou Homem. 
Deixei para trás a caverna. 
Confia e mim! 
Deixei para trás a caverna. 

Luzia - Dia da Terra 2021