Será?
Procuro perceber
quantos pedaços de mim mesma
terei ainda que apanhar
no enredo das noites perdidas
que tento inutilmente esquecer
e que permanecem em mim como os sinais
que possuis e vais deixando aqui e ali
trazes em ti a crueza das palavras
o olhar distante
mas um coração magnetizado
que teima em pulsar...
NÃO VOU DEIXAR!...
Temo...
uma casa, abandonada,
sem força,
janelas pendentes
portas sem batentes
que rangem com o vento
gritando o seu lamento
sentindo solidão...
entradas cerradas
contas fechadas
já não há luz neste casarão!...
Sombrio se ergue
permance,
o soalho cede... apodrece
remoinhos de poeira
entram pelas frestas
que se abrem à luz solheira
em frinchas ténues
que revêem o brilho esquecido
a inesperada saída
deixou o espaço coberto de um pó
expectante, frustrante...
as janelas ficaram abertas,
esquecidas...
e por elas entra agora tudo.
batem com força
empurradas pelo vento
uma contra a outra
uma sobre a outra..
solta-se uma dobradiça
fica solta a portada,
eminência de queda
aluimento de terra
poças que se formam
da chuva que goteja
in.sis.ten.te.men.te....
a casa rende-se...
entrega-se à dor
pede que a inundem
com água, com sol,
com pó e vento cósmicos
tentanto com todo o Universo
sentir o preenchimento outrora
existente.
Deixa-se aberta a ocupações ilegais
na tentativa que a manutenção seja feita
e não impluda sobre si mesma...
Mas mantém-se fechada...
A porta principal foi,
antes da fuga,
cuidadosamente cerrada,
polida,
envernizada
oleada,
uma, duas, três, quatro voltas à chave...
blindagem completa,
trancas que sobem do chão ao tecto
fachada tratada com afecto
- Uma cara lavada...
num corpo deserto.
Quando voltares,
a fachada sorrirá!
e a porta oleada
será apenas travada
pelos escombros
caídos lá dentro,
onde não houve tratamento...
tarde será?
pé ante pé
procurarás entrar,
caminhar,
sentirás o chão ceder
debaixo dos pés
da mesma forma que cedeu
sobre os alicerces da casa
quando desleixadamente
fechaste a porta.
O sol que entra pelas frestas
abertas pelo tempo e pela dor
sugerem a beleza acabada
da tinta esbatida e empoeirada
nas paredes.
janelas sem cortinados
como gostavas de ter,
e que permitiam a transparência
-nunca
realmente existente
de ti-
fazem ver agora com mais clareza
a diferença abismal
entre o brilho e a sombra
entre a vida e a morte
entre a saúde e a doença..
a casa tosse... catarrenta
espirra... bolorenta
geme, dorida,
com poucos sinais de vida...
quererás entrar?
saberás cuidar?
“terás agora vontade
que nao tiveste quando
era esplendorosa,
para me habitares?”
Limpando o pó,
os pedaços de uso
deste e daquele que
tentaram lá viver
mas que cedo descobriram
a não condição
das condições...
abrindo a janelas
escancarando de novo os portões,
amornando a sombra fria,
que permaneceu imemorialmente,
com o sol vivo e sempre quente
e que secará a seu tempo
o cheiro bafiento das madeiras
molhadas pelo choro
de anos de chuva,
que impregnadas
e moles ainda assim resistiram?
Ou virarás mais uma vez
cobardemente, as costas...
e fecharás agora a porta, sem cuidado
quatro, três, duas, uma, nenhuma vez à chave
batendo, com força.
fazendo saltar o pó...
fugindo.
um último golpe
sem dó
tremendo...
ruindo...
O som dos escombros a cair...
ensurdecedor...
a onda de choque da implosão...
plena de vigor...
e tu afastando-te,
imune...
surdo, insensível...
olhos fechados...
certo de mais uma vez estares
a fazer o correcto.
caminhas... sem olhar para trás...
Coração escudeado, e pensamentos ilusórios
que te ditam a sentença a que te sujeitas.
E pensas: “Um dia... voltarei aqui!...”
Telepáticamante, no seu sufoco terminal
responde-te
“ESTOU NO CHÃO!...”
Será... tarde... demais...
?
21.06.2011
Sem comentários:
Enviar um comentário