escrever é o meu teatro mudo

escrever é o meu teatro mudo
escrever é o meu teatro mudo | 24.08.2002

terça-feira, 22 de outubro de 2019

Floresta





Floresta

Viajei sem pressa, sem medo
Por esses olhos verdes raiados de sol e de terra.
Sonhei ser a fada que os voa
Vivi refúgio na calma aquosa desse riso subtil
Escrito na íris de uma canopia incessante
Presente num mundo onde o sol não se põe
Mas também não queima...
Como uma loba perdida,
Fui fera e feroz e feericamente rosnei e bradei
Por um encontro que aquietasse este bater selvagem e indomável
Que pulsa por dentro e por fora
E me faz temer e enfrentar, e tremer e ribombar
Em ritmo sincopado que me faz perder as pernas e o sentir
E prostrar-me em reverência à floresta que representas
Onde elementos se esbatem e se esvaem e se fundem
Numa aguarela difusa pincelada pela luxuriosa força das águas
Que correm de meus olhos e choram a presença infinitamente presente
De um corpo maior que eu
Que me transborda em natureza
E brota de meu ser como uma semente...
Semente regada por palavras sábias...
Vindas de onde?... Não sei...
Sei que as sinto e reverberam e suspiram
e são transpiradas por poros que desconheço
que em mim habitam, mas desconheço...
que em mim se agitam, mas desconheço...
Desconheço a sua origem, o infinito que as começa
Assim como desconheço o infinito onde irão parar
Sei que são regadas pelos veios artísticos que correm e definem
o teu corpo, a tua palavra, a tua voz, a tua emanação...
Sei que representam vida, para lá de todas as mortes que nos fazem viver
e nos fazem crescer em total e absorta amnésia constante.
De onde venho? O que sou?
Amalgamada de lembranças e histórias que me fazem ser Luzia
Sem a mínima coerência consciente de um passado que me suplanta a vida
Mas que me fez mergulhar aqui!
- nas profundezas da tua floresta –

Por divina e ulterior providência cheguei até ti.
Caminhei estes trilhos, cobertos de folhas escritas de histórias
Senti o cheiro à terra húmida que emanas
E o silêncio! Ah esse eterno silêncio que respiras
E me faz sentir eterna...
Esses olhos verdes raiados de sol e de terra
Falam silêncios que entendo atómicamente...
Não é a mente que os desvenda!
Não é a lógica e os silogismos filosóficos
Não é a operação derivada do integral logarítmico...
Não há ciência que o justifique.
Nem teosofia que o defina.
Não há solução nem problema nem ideia nem acção
Que o precise...
Há algo, para lá do que existe,
Que me angustía quando repouso meu ser na intelectualidade em que se revê
E reconheço a limitação castradora da palavra e do conceito.
Entendo atómicamente...
Porque o que entendo não se define! Não se limita!
Vai para lá da quântica e da física e do espírito...
É inexplicável na essência esta percepção do silêncio que emanas
E que me faz sentir tão somente em mim
Loba encontrada, amansada
Pelo reconhecimento de algo que nos transborda a existência
E nos faz ser mais do que o uivo ouvido na floresta
Aquele calor de nos reconhecermos em substância...
Que por mais que me estenda por versos e metáforas
Será sempre em vão
Será sempre uma aproximação de algo 
tão distante como o sentido da vida, o seu início, ou o pó estelar...
Apenas reconheço o silêncio da floresta
Como a mais nobre parecença do que és
E como a mais nobre aproximação

do que eu

realmente

sou.




Para ti meu amor
Luzia
22.out.2019








sexta-feira, 26 de abril de 2019

É quando sinto o seu abraço que o mundo cessa… E resta apenas a divina paz do nosso reencontro…

Luzia Peixoto
21.05.2018
Legenda para trabalho fotográfico de Pedro Maia photography

The Guru

The guru

There is a voice… 

who inhabits an unveiled realm of truth..
it sounds like clear water... 
the breeze in a frozen peak
the warmth of a sun heated stone…
It has the shape of the shapeless
the form of infinite
and the volume of Akash…

There is a sight…

enlightened by a dark dispeller...
by the eyes of a saint
by the hands of a knower...
It seems like mystic fire
which enhances perception 
and feeds the yearning of the seeker

There is a man

Who strives for divine connection
sanctified by his rites and passages
by lives of devotion and sadhana
Where veils have unveiled
and centered focus can be seen.
His need is to detach from worldly affairs
from realms of form and space
and to merge into the grace

There is a shadow

A little convenient one
wich blocks the vision of God
and embosses the merge on light...
It insists to become 
the challenge of the aspirant
whose mind is not blind
whose eyes are wide open
and whose heart is like a chalice
ready to receive and dissolve 
all grains of doubt that still raise in his existence

There is a time

The time where shishya gets ready
after eaons of lifes 
through Karmas and Dharmas 
mistakes and accuracies 
and love in all shapes…
The time when he sits 
and inspired by openness he feels and receives
the breeze of that once far frozen peak…
enhanced by the mystic fire that shines and reflects 
inside of his heart

There is a guru

Calmly waiting for the time 
When the shadow enclosing this man
is enough subtle to make him
able to see the sight
and hear the voice...
of light...
This dark dispeller 
will bless his life
withdrawing the shadow 
and revealing the truth

Evolving and revolving 
The man becomes one 
with this astounding ground
of primordial sound
He connects through his deepest tissues
to all that is beyond
world, love and matter
finding God by finding you
and understanding 
above all growing 
when you are ready
you will always find

THERE is your guru!

Luzia Peixoto
27.07.2018
drawing: Luzia

Sobre a luz



















A certeza traz-se na lua cheia… 
Nos momentos prazeirosos entre o uivo e o sono, onde a noite se encavalita em oníricos sagitarios que de volta te enviam ao momento de criação em que o ser e experienciar se elevam para lá dos caminhos da razão.
Entre Martes e Mercúrios e Saturnos que soturnos se retrogradam para impedir o viver, existe esse ponto de existir, que atravessa o corpo e mente e se instala omnipresente num sonho lúcido e omnisciente onde corpo e mente se fundem para lá de sua própria cognição… 
E dão lugar a algo mais que a razão… 
Em sushupti nos encontramos e em Turiya mergulhamos para suprimir a ilusão e ser benção de um com a ilimitada vastidão. 

Na lua cheia, o brilho espelhado do corpo-água que somos, enaltece os atributos do sol... que se comede para iluminar sem fulminar, e nos apresenta a forma de o acatar dentro da noite, quieto e resguardado, para lá dos olhares atentos das ninfas e faunos que habitam os bosques sombrios e místicos, que dentro e fora permanecem serenos, até que os anseios tomem conta e criem a fantasmagórica ilusão do acontecimento arrepiante que existe só na mente oscilante de um ser incoerente e resignante. 

Não há na lua cheia nada mais que a certeza… A certeza que a noite é detentora de luz, em forma de potência adormecida. E que os olhos aguçados de uma mente em Brahma emergida serão concerteza guiados com a leveza de um raio de luz dirigida.

Entre o uivo e o sono, a mente mergulha e se encontra na paz restabelecedora de ser… 
A lua, traz a clareza de um espirito que guia na sombra e aquieta na noite, e nos priva da luz a cada ciclo de fluxo, para nos fazer saber que a escuridão, nos traz a certeza de sermos ao mesmo tempo invisíveis e omnipresentes, insensíveis, e sencientes… 

Luzia Peixoto
27.08.2018

To You

Encontro conforto nos braços de Deus
quando te vejo, sem pressa, perseguir os teus sonhos

Somos sol e lua, impregnados em prata
somos ventos e mares, moldados a ouro

tenho a certeza de ver nascer uma estrela
cada vez que escorres em pensamentos de sonho...

Encontro conforto nos braços de Deus… 

porque o sonho que sonhas é Dele e não teu
porque escorres Divino sem Ego e sem Eu

somos um em dois corpos, multitude de almas
somos prana que rege e que vida emerge

tenho a certeza de encontrar-te na bruma de Turiya
pois as noites que sonho me desvelam o véu

e sendo o teu chão me levanto em acção
que sustenta o teu vento movimento função

e eleva Maya ao estatuto de Bhrama
quando Ele se mostra e em tua voz se proclama

partículas divinas de sol e de lua
que de véus desvelados se encontram na rua
e fazem achados para lá do comum
para encontrarem o brilho resplandescente do Um

somos seres que emergem das cinzas profanas
para dissolução profunda de Éter em chamas

querendo apenas ser Gaya e regaço
te amparo a criança que Homem eu faço

E encontro conforto nos braços de Deus, 
porque sei que os Dele, são também teus...

Luzia Peixoto
22.10.2018