Que a liberdade tem piolhos e não a quero
Que a fome não a tomo e me abona
Que a dor não a compro e me inflaciona
Que a saúde me é imposta e adoeço
Que a liberdade tem piolhos mas não tem preço
Que a fome me destrona e eu me farto
Que a dor me agonia e me alivio
Que a saúde não se compra na farmácia
Que a liberdade tem piolhos e muito coça
Que a fome dá comichão mas não me mossa
Que a dor está escondida, anestesia
Que a saúde me é tirada a cada dia
Que a liberdade tem piolhos e não me importo
Que a fome só tem lugar quando eu corto
Que a dor é um sentir tão mais profundo
Que a saúde é um direito neste mundo
Que a liberdade tem piolhos e chateia
Que a fome é na Tv não na ceia
Que a dor só me toca a carteira
Que a saúde é ferramenta derradeira
Que a liberdade que é minha e não tua
Põe-te à fome habitante de uma rua
E a dor que te consome me habitua
Que saúde é privilégio que recua
Luzia Peixoto
Junho 2021
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