escrever é o meu teatro mudo

escrever é o meu teatro mudo
escrever é o meu teatro mudo | 24.08.2002

sábado, 16 de julho de 2016

Santosh

 






















Eu estou calma... 

Mas há uma felicidade que me invade a alma
e que é trazida pelas correntes do Oriente, 
como se a brisa ganhasse forma dentro do meu coração. 

Onde o sol se põe, repousa agora meu saber.. 
Esse que existe para lá do cogniscível e se sente dentro... bem dentro... 

Milhares de milhões de moléculas que me dão forma 
sorriem em uníssono 
por simplesmente vibrarem, onde tudo vibra. 

Meus olhos fechados, cerrados a maya, 
descortinam certezas invisíveis ao homem 
mas plausíveis ao eterno... Ser... 

Ter noção do Um em ti que eu amo e venero 
me fez chegar à mais alta afirmação do Um em mim. 

E que tudo é calma... Porque é divino. 
E que tudo é simples... Porque é amor. 
E que tudo está escrito... 
E eu, sou a caneta, do grande escritor...



Luzia Peixoto
16.07.2016

sábado, 23 de abril de 2016


 Só em Ti











Estou só
Nua, crua
Tentando ser minha e sentindo me tua
E em cada emoção que flutua
Visto o meu fato de princesa menina
Perdida em si
Segura
Na incerteza de um momento
Que é certo por dentro
Na certeza de um encontro
Que foge do meu centro
e que eu,
Idilicamente alimento
Quero ser eu sem medo de ser
Nua
Crua
Quero ter-te para lá do que eu sou
Crescente em mim
Presente em mim
Sentindo me em ti enquanto eu
Procuro-te
Espero-te
Na certeza que já és certeza em mim
E nosso encontro ja foi,
Ainda que não presente
E, de repente,
No meu abraço de longo espaço
Em que o tempo se perde
Na transferência subtil
Da energia que emanas...
E emano
E se atrai
E se encaixa
Revejo-me
E vejo-te aqui
À minha frente
Despido,
Entregue,
Em ti
A procura idilicamente
Vertiginosa precipita-se no agora...
Sou eu? Serei já Eu?
Nua? Crua? Só?
A incerteza do momento que é certo por dentro,
Tornou-se certa por fora...
E agora?...
Estarei em mim preparada
Para estar em ti?
E o alimento que trazes
Arde meu fogo que fazes
E sinto-te dentro,
Por dentro e por fora
E sinto-me AGORA
SÓ, Nua, Crua, em TI.


Luz Peixoto
Maio 2012

quinta-feira, 31 de março de 2016

Mulher magia


Tenho saudades do tempo em que eu era a anciã
em que as rugas escorriam as gotas suadas de chuva como ribeiros sinuosos
em que os cabelos alvos espelhavam o luar 
e transmitiam as linhas pensantes de conhecimentos distantes... 

Era um tempo que desejo, qual criança ansiosa
de sangue jovem irado e desenvoltura graciosa.
Mas nessa visão sincopada que rege o meu agora,
sinto-me à noite, sozinha,
a mulher velha de outrora. 

Corro o risco, corro o riso, e desvelo um olhar atento
de quem sabe, para além de si, analisar um sentimento. 

Salto as pedras, salto alto, e encontro-me na montanha
sábia, madura, presente, que se sente… e se entranha.

Quem me olha sabe ouvir, histórias de tempos sem data
quem me vê ousa inquirir sobre esta veste novata.

Sou de dois lados! 
Estou em mim plena! 
Abro meus braços, 
sinto a lua, 
meu ciclo que flutua, 
...meu coração se serena...

Dos ancestrais aqui presentes, e atenta aos meus medos 
plantas sibilam sussurros 
e me entregam aos céus seus enviados segredos

São versos de cura e de visões cristalinas 
Olhares de mãe, mulher madura
Sentires de irmãs, ainda meninas

Sou de dois lados:
este que visto, e aquele vivo!

Sou mulher que chora e dança à chuva 
para que as suas lágrimas se confundam com a tristeza de outono

Sou garota que corre ao vento de primavera 
confundido seus fios de saber com o ouro das searas  
 num completo abandono

Sou a velha que enrijece com a neve fria que abranda

Sou a deusa, que fogosa, aquece o chão por onde anda…

E desabrocha a cada dia, 
uma pétala, mais um ano
cresço cá dentro, sento-me em mim,
e me vejo de outro plano.

Tenho saudades dessa velha, sábia alma, 
de cabelo branco, grisalho
Sendo mulher presente - vivo atenta!  
esperando pela vindoura calma 
tal Mae-terra que sedenta
recebe a gota de orvalho.

Enquanto caminho nesse trilho, 
sinto-me a menina-neta 
olhos cheios de brilho
que parte à descoberta 

Sou de dois lados:
Sou a nova e sou a velha.

Enquanto isso sou eu,
que prostrada se ajoelha
possuindo a visão da lua
bem perto da sobrancelha
e gerando frutos férteis
se enraiza na terra 
deixando-a vermelha.



Luz Peixoto 
30.03.2016