escrever é o meu teatro mudo

escrever é o meu teatro mudo
escrever é o meu teatro mudo | 24.08.2002

sexta-feira, 23 de setembro de 2011

Mergulho nos teus olhos espelho dos meus e sorrio bem lá para dentro. Encontro lá uma lagoa rica e luminosa de tons terra e verde água, onde o meu coração se reconhece. És da minha natureza e lá me insiro como peixe dentro dela. Chapino nos raios da tua iris e deixo-me atrair pelo buraco negro dessa pupila sem fundo, que me suga num vórtice desenfreado de energia e me faz sentir um turbilhão de coisas que se manifestam no absoluto. Ao ver-te, revejo-me. Ao mergulhar o meu sorriso dentro de ti encontro nas profundezas o teu sorriso - Quente e disfarçado., típico do pirata que veleja nesses olhos...
Encontro-te; e plena de traquinices dispo-te os trajes piratas.... espada, lenço, pala... agora vês já com os dois olhos e por baixo desse Tu existe um outro mais profundo, mais reservado, que se mostra a mim com uma clareza que não quer ter enquanto tenta vestir novamente a sua bandeira de saqueador de corações.
É escusado. Em mim, essa lagoa é transparente... e dá-me tempo para sentir nela o rei que me faz sentir rainha. E o principe, que com o seu cavalo faz de mim princesa no seu castelo andante.
É simples amar-te! Porque és real! Não há mentira! E, consequência disso - falha a ilusão! Tudo é universo em acção.
És tu e eu, mergulhados um no outro, pelo portal mágico do olhar!

23.09.2011

domingo, 11 de setembro de 2011




12.11.2011

Às vezes, quando anoitece, as sombras escuras afagam-me os cabelos. Sinto o carinho dos seus gestos como se a sua mão fosse permanentemente minha e eu pudesse sem medo encontrar-me no seu corpo. A solidão do desencontro encontra fuga nos gemidos da noite, na verdade oculta em mim... Prazeirosamente passeio, pavoneada, crescente. Encontro balanço na atracção-repulsão das partículas moleculares da socialização. Um sorriso- engana o mundo nas suas mil formas! Tranquilamente, vagueando, elogia o corpo com a direcção do vale-tudo: à noite, tudo é possível, se o objectivo é ser contente. Alucinadamente, ingerindo a química perfeita no momento para a matéria cerebral, ocorre a mudança. Somos já filmes diferentes que se reunem e unem para celebrar; ao contrario dos desunidos filmes diurnos onde vale-tudo para ser gente.

A solidão e as sombras afagam me os cabelos. A repulsão atrai-me o silêncio. E, silenciada, inícío a fala que sabe a inferno e cheira a paraíso.

Encontrar-me-ei na solidão... e isso é tudo o que basta!

11.11.2011

sábado, 10 de setembro de 2011


Tento ver a vida da melhor maneira... sem óculos de sol pra nao receber a informação filtrada.... gosto de levar com a luz real e depois usufruir das sombras e dos jogos de cor sem medo da cegueira de enfrentar directamente a ofuscação... ofuscando-me, perco o tino, mas deplecção da visão faz exacerbar os outros sentidos. Após a zonzeira inicial, percebemos que outras ferramentas são possíveis e uma mão a servir de pala permite visualizar que em todo esse brilho do real, podemos ainda diferenciar as cores predilectas do arco-iris. Sendo assim, fica a dança. O movimento melódico dos corpos que se abraçam e dos ventos que se cruzam. As poeiras cósmicas dos átomos que são meus e teus, num bailado de entrega onde nos damos a conhecer e sentimos a viagem da ausência insensata de pensamentos lúcidos. Vive-se assim. despreocupadamente na verdade intensa. Fazendo doer e crescer, sentir e querer cair ainda de mais alto! e mesmo sabendo as consequências da queda, o voo sabe tão bem!! E por isso, continuo a voar, na direcção da cegueira. E sei que vejo, para além disso....

10.09.2011


sábado, 3 de setembro de 2011

manhã portuense

era noite

e nos escombros do dia
a cidade vivia
isolada.
Sentada
na ausencia dos sentidos
povoada por ecos dos sons repetidos.
Estridentes e ausentes
flamejantes, contundentes,
buzinando no maralhal de gente
encontrada assim de repente
sem rumo aparente,
mas ordeiramente
seguindo a mecânica
já estipulada
do agir inconsequente.

. sigo para casa
no fluxo impessoal e intransmissível
de emoções presentes.
levo comigo toda a cidade;
segue a meu lado, sem saber
está maquinalmente encostada a mim
segue no metro, no passeio
nas quelhas e vielas
por onde passo, com meu cansaço
nos passos ritmados
de todos os viventes
que, sobre vivência
apenas se identificam
como sobreviventes....

Ritmicamente, entra-se e sai-se
dos carros, dos transportes,
das lojas,
da porta da porta da porta que abre a porta
e que se fecha no nosso pequeno mundo
invísível à cidade
e visível a nós próprios.
Descalços em casa sentimos.
Na planta dos pés,
no cansaço das palpebras que teimam em fechar
um copo de vinho e um charrinho
fazem-nos relaxar...

é tarde mas a frenética das coisas
tira-nos a vontade de dormir...
apetece dançar, sair.
Mais um bafo de esquecimento
e estamos prontos para encarar a cidade
que sem dormir vive agora festiva.

Chove. Mas a inércia de há pouco
desapareceu por inteiro
e mesmo sem dinheiro
com espirito aventureiro
prioriza-se o relaxar.
Vamos dançar!

O dia acaba quando a noite começa.

As pessoas já se cruzam
conversam, encontram-se.
Nos mesmos sitios
onde passaram há pouco irreconhecídas
mudas, estremecidas.
Tudo mudou.
No mesmo sítio da mesma cidade,
com as mesmas pessoas que já são outras
pois estas foram a casa buscar a alma!

Loucura, aventura, perdição
fazem da noite férias de verão
para onde quer que vocês vão-
tropegos e cambaleantes
depois de mais mil bafos de esquecimento
está na hora do regresso.
A casa parece agora o melhor ingresso.

Amanhece... o cheiro a pão quente
ainda nos desvia do descanso.
saciados

vemos o chão molhado como um convite ao leito
a chave no bolso, o cansaço nos olhos
o sorriso embriagado nos lábios
. A manhã parece de luz.
Os prédios e as casas
e o reflexo da chuva dentro da lua.
Deparamo-nos com a estonteante beleza de uma cidade
que desperta, sem sequer ter adormecido.

Caímos redondos. Pés de fora, roupa fumada, na cama lavada
no pása nada!
Num milésimo infinitamente pequeno de costume
é já hora de acordar
Ponho me a andar
e a manhã que tinha acabadode chegar

começa novamente a pesar
sigo para a vida, sobrevivida.
Já não vou sorrir ou falar

porque é hora de trabalhar
e o ciclo repetese e repete-se e repete-se...

sem cessar....


2.09.2011