escrever é o meu teatro mudo

escrever é o meu teatro mudo
escrever é o meu teatro mudo | 24.08.2002

quarta-feira, 14 de fevereiro de 2018



Amor
















Nos dias
em que o amor prevalece,
há no ar uma atmosfera suspensa...
Como um ritmo que quase bate
uma pausa que se anuncia
um olhar que acercadamente se cruza…

Nesses dias, 
em que o coração pulsa em pausa
e os pensamentos voam em descanso
tento por bem sentar-me e sentir-me
Para lá daquilo que reconheço… 

-Sou eu, um eu maior, 
que se exacerba em emoções 
e se constringe 
à insignificante e misera essência
da pequenez de um único sentimento?

É o Amor pois sei!
Que na sua grandiosidade abafa tudo aquilo 
que os Outros são. 
Não há, onde ele está,
lugar para Ódio ou comiseração…

Nesses dias,
vejo escoar por entre as mãos
meu sentir arenoso, 
que ainda que rico em substância 
se torna seco em exuberância
pois a monotonia do sentir
é como um pé descalço na praia
que se afaga pelo morno abraço 
e se torna abrasivo a cada passo...

E penso, para lá de mim, 
nesta insensatez do umbigo,
e entendo o amor cego
como um pequeno inimigo
ora sôfrego ora em apego
impedindo o que instigo.

Olhamos 
o objecto da nossa absorção
sem compreender em concreto 
o Amor, 
em todo o potencial de devoção.

Reduzimos
ao - querer ter por perto -
e não sabendo alegar 
qualquer tipo de 
razão...

Encerrados no nosso centro
definimos este sentimento
com as medidas da nossa pequenez.
Resumindo-o ao ciúme, 
à intolerância, ao queixume
que nos faz perder as asas 
do mais belo pássaro
que Deus jamais fez...

Livres são os que amam!
Sem medo ou condição!
Aqueles que na areia 
sentem o mar
em vez da abrasão...
Que olham as ondas e entendem
não haver uma, à outra semelhante
e ainda assim reconhecem 
o oceano 
em sua essência platonizante.

Estou a falar-vos de amor!
Amor que ama
amor que sente!
Aquele que não hesita em dar bilhete
quando seu objecto quer estar ausente
e que sorri com afecto
pela liberdade presente
de sentir em distância 
aquilo que sempre se sente
quando o ego não nos emaranha 
e nos transportamos lucidamente. 

Estou a falar-vos de liberdade!
Liberdade que vibra
liberdade que solta
aquela que ama e não castra
e envia, 
sem esperar de volta….

Nos dias em que o amor prevalece
olho para o arquetipo desvirtuado do amor
e entendo em mim o poder
de o retomar ao seu esplendor

Minha mente incessante 
insiste para me elevar
ao espírito livre e sensível,
e poetisar o amor
que é sempre livre e sem dor!
Aproximando-nos assim,
da divina proporção 
dos cósmicos elementos  
em sua celestial acção 
para a alquimia perfeita 
que em magia se dá
dentro do nosso coração.

Há algo de muito errado em angustiar
essa pausa a que o coração nos sujeita
deixando em suspense tudo aquilo que 
nos invade, somos, 
ou ilusoriamente imaginamos, que daí advém

Essa pausa, que de tão estranha 
nos estremece
é o perfeito degrau
para a divina beatitude
que ao mundo engrandece

Sou eu que ao sentir-me me sento 
e engrandeço por dentro 
ao explorar o amor
aquele, que não toca, nem deseja 
mas que ainda assim almeja
sentir-se em comunhão
com todo o seu esplendor

Abrindo os braços ao céu
e abarcando no seu interior
tudo o que existe na criação, 
me deixo sem reservas, 
completamente enamorada
desta voluptuosa sensação
que de areia monótona e abrasiva
se tornou em terra rica e nutrida
onde posso pisar meu chão
sem jamais depender do Amor
para ser aquilo que eu for
e sentir meu coração.

Amor amor...
Sim! 
Se for
de elevada vibração.

Luz Peixoto
14.02.2018

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